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Dificuldades de compreensão da linguagem figurada no autismo


A linguagem figurada, como metáforas, provérbios e ironias, é uma parte essencial da comunicação humana. No entanto, para indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), a compreensão dessa linguagem pode ser um desafio significativo. Neste artigo, exploraremos as dificuldades que pessoas com autismo enfrentam com a linguagem figurada, com base em pesquisas científicas recentes. Abordaremos as causas dessas dificuldades, os tipos de linguagem figurada que são mais desafiadores e as estratégias que podem ser utilizadas para auxiliar na sua compreensão.


Pensamento literal: a chave para entender as dificuldades


Uma das principais características do autismo é o pensamento literal. Isso significa que indivíduos com autismo tendem a interpretar as informações de forma direta e concreta, tomando as palavras sempre em seu sentido literal. Imagine a seguinte frase: "Estou morrendo de fome!". Para a maioria das pessoas, essa frase indica que a pessoa está com muita fome. No entanto, para alguém com pensamento literal, essa frase pode ser interpretada como se a pessoa estivesse realmente morrendo.


Desvendando as pesquisas: o que a ciência nos diz


Diversos estudos científicos já exploraram as dificuldades de pessoas com autismo em relação à linguagem figurada. Uma pesquisa realizada por pesquisadores europeus¹ investigou fatores que influenciam a compreensão de metáforas em pessoas com autismo de alto funcionamento. Os resultados mostraram que entender metáforas depende principalmente da pragmática (significado das palavras em um contexto específico) e da “teoria da mente” (habilidade de compreender pensamentos e sentimentos dos outros). Por exemplo, uma criança com autismo pode não entender a metáfora "ele está com dor de cotovelo" se não relacionar a expressão a uma situação de ciúmes.


Outro estudo, da Universidade Federal de São Paulo (2016)², comparou a compreensão de ambiguidade em crianças com transtorno específico de linguagem e fala (TEL) e crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Os resultados mostraram que as crianças com autismo apresentaram maior dificuldade em interpretar frases ambíguas do que as crianças com com transtorno de linguagem. Um exemplo seria a frase "João é um gato". Crianças com autismo podem ter dificuldades em decidir se a frase se refere a uma pessoa ou a um gato que se chama João.


Tipos de linguagem figurada mais desafiadores


Nem todos os tipos de linguagem figurada são igualmente desafiadores para pessoas com autismo. De acordo com pesquisas, estas são as mais problemáticas:


  • Metáforas: As metáforas comparam duas coisas que não são realmente iguais, usando frases como "é a cara do pai" ou "o tempo é dinheiro". Pessoas com autismo podem ter dificuldade para entender a comparação implícita e o significado real da metáfora.


  • Provérbios: Os provérbios são frases curtas e concisas que transmitem sabedoria popular, como "água mole em pedra dura tanto bate até que fura". Pessoas com autismo podem ter dificuldade para entender o significado literal do provérbio e sua aplicação em situações reais.


  • Ironia e Sarcasmo: A ironia e o sarcasmo envolvem dizer o oposto do que se quer dizer, muitas vezes com tom de humor ou crítica. Pessoas com autismo podem ter dificuldade para identificar a intenção do falante e entender o significado real da frase.


Construindo pontes de comunicação: estratégias para auxiliar pessoas com autismo


É importante lembrar que cada pessoa com autismo é única e apresenta diferentes níveis de dificuldade com a linguagem figurada. No entanto, algumas estratégias podem ser úteis para auxiliar na comunicação:


  • Utilizar exemplos práticos: Ao explicar uma metáfora, forneça um exemplo prático do que ela significa em uma situação do cotidiano.


  • Incentivar a comunicação não verbal: Incentive a criança a prestar atenção na linguagem corporal e às expressões faciais para melhor entender a intenção da pessoa.


  • Histórias dramatizadas: Utilize histórias com personagens que expressam diferentes emoções e situações sociais para ajudar a criança a entender e interpretar as ações e sentimentos dos outros.


  • Ser paciente e compreensivo: Compreender a linguagem figurada pode ser um desafio para pessoas com autismo. Seja paciente e compreensivo durante o processo de aprendizado.

A linguagem figurada é uma parte essencial da comunicação humana. Ao compreender as dificuldades que pessoas com autismo podem ter com essa forma de linguagem, podemos construir pontes de comunicação mais eficazes e inclusivas. Através de estratégias adequadas e de uma postura paciente e compreensiva, podemos ajudar indivíduos com autismo a desvendar os mistérios da linguagem e se expressarem de forma plena e autêntica.


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